Sentido de humor V

A função de presidente da Câmara é uma das mais difíceis e complexas que existe no País. Um homem ou mulher que dirige uma Câmara gasta metade das energias ao serviço dos munícipes e a outra metade a resistir às propostas dos construtores civis; em alternativa, gasta um terço do tempo a pensar nos munícipes e dois terços a receber construtores civis; mas, se for um presidente da Câmara adepto do desenvolvimento, não pensa sequer nos munícipes, mas apenas nos construtores.

(...) se algo corre bem na autarquia - um novo túnel, uma nova rotunda, um jardim público ou uma escola de categoria - devemos agradecer ao senhor presidente do Concelho a obra. Se algo corre mal, por exemplo, se cai qualquer coisa ou se se estraga algo, se os engarrafamentos aumentam de intensidade, etc. e tal, a culpa é sem dúvida do Governo que estiver na altura em São Bento.

Esta forma altamente política de agir cria uma estabilidade notável nas autarquias. Um autarca devidamente instalado e com os interesses certos do seu lado, não sai de lá nem a pontapé. (...) A estabilidade municipal é um orgulho do sistema político português.

É por isso que te proponho que as Finanças Locais sejam localizadas! Que em cada autarquia haja, pelo menos, um Ministério das Finanças que cumpra, estritamente, as ordens do senhor Presidente da Câmara. Se assim não for, para que queremos o poder local? Se assim não for, quem constrói rotundas?

(Carta Aberta do Comendador Marques de Correia a Fernando Ruas, por Henrique Monteiro, in revista Única, Expresso, 07Out06)