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sexta-feira, agosto 18, 2006

Ainda Bolonha

Numa altura em que se avizinha o início do novo ano lectivo, ainda se encontra sobre a mesa a discussão acerca da adaptação das universidades portuguesas ao projecto de criação do espaço europeu de ensino superior – o Processo de Bolonha. O que para uns é uma pérola, para outros não passa de uma “operação cosmética”.

É desta forma que, um dos maiores especialistas portugueses no Processo de Bolonha, Pedro Lourtie, caracteriza o estado actual do processo de reestruturação dos cursos. Pedro Lourtie defende que este foi “um processo apressado, cuja consolidação está longe de se concretizar”, sugerindo que “as mudanças devem ser geridas por grupos de acompanhamento junto das instituições”. Se é verdade e desejável que este acompanhamento seja devidamente conseguido (desde que se obtenham resultados práticos, caso contrário, os grupos de acompanhamento não passariam de paliativos), também não é menos verdade que se o processo se revelou precipitado foi por capricho das universidades, já que estas podem adequar os seus cursos até 2010. Resta aos futuros alunos ponderarem devidamente na altura da candidatura.

Para reforçar este negativismo, aparece Alberto Amaral, director do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES), apontando três factores que actuarão como freio à adaptação no nosso país: 1) a burocracia; 2) o trabalho adicional para os docentes e 3) a competição entre instituições (substituindo o paradigma da cooperação entre academias). Um pequeno exercício de dissecação refuta qualquer destes três pontos: 1) a burocracia combate-se, aliás, tem sido um dos “cavalos de batalha” deste governo; 2) como pode ser assim tanto o trabalho adicional dos docentes, se a carga de aulas presenciais irá sofrer uma redução (?); a verdade é que o trabalho irá aumentar para todos, até para os alunos, portanto, sejamos justos; 3) desde que se mantenha a tal cooperação entre academias, a competição pode ser salutar, até benéfica, para os estudantes.

Marta Santos, do Departamento Pedagógico da Associação de Estudantes da Universidade de Lisboa, introduz ainda uma nova preocupação, corroborando uma ideia de Alberto Amaral, a reacção do mercado de trabalho. Apesar de legítima, esta é uma falsa questão. Em boa verdade, o que se deverá questionar, no início dum processo como este, é se Portugal quer ou não participar nesta mudança. A partir daí, podemos, no máximo, tentar extrapolar os resultados obtidos (nos restantes 44 países que participam no processo de reforma) para a realidade portuguesa. No entanto, nada é garantido. Resta sensibilizar/informar os empregadores e arriscar.

(Fonte: suplemento Guia do Estudante, jornal Expresso, 29Jul06)